Desimportar-se

A indiferença é o pior presente que alguém pode receber de ti. Ela não tem gosto, ela não tem alma, não tem tato. É a completa ausência de alguém que já esteve presente. Uma ausência tão profunda que se perde no tempo. Esquece-se de quem a pessoa foi ou é. Já não importa mais.
Você acaba de criar todas as resistências a atos bons ou ruins de alguém.
Sabe do que mais ? Essa pessoa se torna só mais uma.
Mais uma em meio de uma multidão de iguais dos quais você não enxerga o rosto.
E então você deixa de se importar.

Você deixa de se importar ?

Não.

Ela mesma se fez de desimportante pra você.

Fragilidade

Quando a gente é jovem tem o gosto da eternidade na boca. Acredita que tudo é para sempre, que a morte não está por aí, esperando sua hora de dar as caras. Acredita que as perdas de tempo não são grande coisa, que se deve deixar a vida seguir seu curso e esperar o que este traz.
E esquece.
Esquece o quão frágil é a vida, e quanto ela deve ser protegida e cuidada.

Saudades.

Se algum dia me perguntassem do que eu mais sentiria falta quando morresse, acho que minha resposta diferiria consideravelmente das saudades que tenho hoje.
Hoje sinto falta de alguns momentos felizes, de algumas pessoas inesquecíveis, de chances que deixei passarem despercebidas, de lugares que visitei apenas uma vez..
Se eu morresse, continuaria saudosa das pessoas inesquecíveis. Mas as chances que deixei passar não estariam tão cheias de saudades como as que acatei. Os lugares que passei uma vez ficariam na memória, mas eu derreteria ao lembrar daqueles em que ia sempre, e até reclamava por serem os mesmos.
Sentiria profundamente a falta das ondas batendo nas pedras, da areia quente no pé, daqueles mosquitos que me infernizavam na beira da cachoeira. Das pessoas as quais realmente conheci, e das que nem ao menos tive tempo de fazê-lo. Dos amores que encontrei e dos que não cheguei a encontrar.
Minhas saudades incluiríam muitas das coisas que não gosto tanto hoje. Mas tudo isto é vida, e por mais que se negue, é necessário o NÃO para a existência do SIM, e a saudade para que se saiba que o presente valeu a pena.